APARIGRAHA

Aparigraha é um dos cinco preceitos de conduta ética, os yamas, de Patanjali, quem compilou o “Yoga Sutra” , verdadeiro guia de transformação espiritual, que contém os principais temas do yoga, considerado filosofia e psicologia milenar. Muitos cacreditam que yoga seja apenas prática de ásanas, quando esta se trata apenas de um dos passos do caminho.

Os yamas – ahimsa (não violência), satya (veracidade), asteya (não roubar), brahmacharya (domínio das energias) e aparigraha (não possessividade) – compõem o primeiro de oito passos do caminho do yoga. O segundo, são os niyamas, que são condutas disciplinares; o terceiro, os ásanas; o quarto, os pranayamas, práticas respiratórias; o quinto, pratyahara, abstenção dos sentidos; o sexto darhana, foco e concentração; o sétimo, dhyana, a meditação; e o oitavo, samadhi, a iluminação. Assim, os yamas, do qual faz parte aparigraha, juntamente com os niyamas, formam a base para todos os demais. Focaremos o aparigraha.

O conceito de aparigraha é abandonar o sentimento de posse. Iyengar (2016, p.39,40), explica que “Parigraha significa acumular ou colecionar”. Portanto, estar livre dessas necessidade” é aparigraha. Não se deve adquirir bens que não sejam realmente indispensáveis, bem como não acumular coisas que não sejam imediatamente necessárias.

O autor usa a metáfora da lua para explicar o conceito. Ele explica que ela, em determinados períodos, surge bem tarde, quando todos estão dormindo e, desse modo, não apreciam sua beleza. Mas a lua não desvia do seu caminho, indiferente à falta de apreciação dos homens. Quando estiver novamente em face ao sol, voltará a ficar cheia, e, por seu aparente esplendor, será vista por muitas pessoas. Não falta à Lua esta certeza, o que a faz não desviar de seu caminho.

Estar atento a aparigraha significa tornar a vida, conforme explica Iyengar (p. 40), o mais simples possível e exercitar a mente para não sentir a perda ou a falta de qualquer coisa. Tudo o que alguém precisa chega até ele no momento oportuno. Trata-se de ter fé que tudo virá a seu tempo. Isso fará que naturalmente não cobicemos o que o outro tem.

O apego não é só a bens materiais, como também a lugares, a pessoas. Em todos os casos, indica a falta de fé. A insegurança de não possuir no futuro leva ao acúmulo desnecessário no presente. O apego só traz ilusão e sofrimento. Nada nos pertence, somos apenas usuários por tempo determinado. Apenas nossos sentimentos, inteligência e valores éticos e morais nos pertencem.

Em relação às pessoas, amar não significa apegar. O apego traz aprisionamento, necessidade de controle. Diferentemente, o amor vem em conjunto com a liberdade e a certeza de que cada um é responsável pelos seus caminhos. Quando não nos apegamos aos semelhantes, não esperamos nada em retribuição ao que venhamos fazer em seu benefício. Ao contrário, quando nos apegamos, corremos o risco de sempre estar decepcionado ou desiludido, pela suposta falta de reconhecimento ou retribuição. E por achar que “ele” nos pertence.

De modo mais imediato, devemos praticar os ásanas sem nos apegarmos aos resultados, assim como em qualquer atividade física ou qualquer tarefa. O apego aos resultados tira a concentração do momento presente. Devemos dar a energia para o aqui e agora. A ação depende de cada um de nós, mas os resultados não nos pertencem. E não dependem só de nós, mas de uma gama complexa de fatores. Estar em aparigraha também significa dar o melhor de si nas ações, sem estar apegado aos resultados. Com a certeza de que tudo acontecerá como deve ser.

Texto de Edilaine Buin

Referências

Bezerra, Cristiano. A ética do yoga. Em: https://www.yogapleno.com.br/yamas-e-niyamas-a-etica-do-yoga.html. Acessado em 2 de março de 2017.

Iyengar, B.K.S. Luz sobre o yoga. : yoga dipika. São Paulo: Pensamento, 2016.

Pantajali. Os yogas sutras de Pantajali. São Paulo: Mantra, 2015.