GURU, MESTRE, PROFESSOR, AQUELE QUE REMOVE A ESCURIDÃO

Lua cheia de julho, com eclipse e tudo mais que nos tem proporcionado oportunidades para o recolhimento e a meditação,  o Guru Purnima de 2020. Um dia para prestar homenagens e expressar gratidão aos mestres, mas também uma data para exercitar a compreensão, para cada um olhar para seu processo de crescimento e aprendizado com olhos e alma de verdadeiro discípulo, aluno, aprendiz.

Guru é uma palavra cujas raízes, em sânscrito, significam “escuridão” e “removedor”. Daí, pela literalidade do termo, o guru é a figura que tem o poder de conduzir o discípulo para a luz. Tudo bem, é isso mesmo. Mas… (sempre tem um mas…) esse discípulo, esse aluno, precisa verdadeiramente querer passar pelo aprendizado que, em se tratando de crescimento pessoal  e espiritual, é sempre trilhado pelo caminho do autoconhecimento.

Então não há mágica nem super-poder que faça um guru levar à luz aquele discípulo que não esteja disposto e consciente dos desafios  dessa jornada. Sobretudo porque é uma jornada para dentro de si mesmo. A “luz” não está fora, o conhecimento não é um destino localizado do lado de fora ou um objeto separado de quem o busca.Da mesma forma, conhecimento não é uma somatória de informações com determinada quantidade a ser acumulada.

Evidentemente existem grandes personalidades, figuras famosas, que inspiram multidões, e que são denominadas Gurus pela grande sabedoria que expressam, e isso é válido. Mas o grande guru é aquele que inspira você a ter a liberdade de ser quem você realmente é.

Descobrir quem se é, e ser verdadeiramente livre, geralmente requer esforço, disciplina e, via de regra, não é das tarefas mais fáceis. É preciso despir fantasias, limpar crenças e abandonar hábitos. É preciso confiar e se entregar. Um mestre, um guru, desperta em você esse desejo, fortalece essa confiança e até mesmo aponta um caminho. Mas seguir adiante é com você.

Podemos trazer isso para perto, para a prática de ásanas no caminho do yoga. O professor orienta, ajusta, explica, guia, mas quem entra na postura é você. O professor não tem o poder de abrir seu peito, ativar seus bandhas, criar espaço e alinhamento  ou fazer uma torção na sua coluna.

Também é importante lembrar que essa relação guru-discípulo, professor-aluno, exige a formação de vínculo, e não pode uma ser resumida a encontros pontuais ou esporádicos. Mesmo que haja distanciamento físico e geográfico, o contato precisa ser contínuo, o relacionamento precisa ser autêntico, os laços precisam ser fortes e legítimos.

Claro que é interessante e saudável  conhecer e experimentar abordagens diferentes e, no caso da prática de ásanas, fazer aulas com professores renomados quando  há oportunidade. Mas se você tem um professor em quem você confia, que tem seriedade no que faz, que aceitou ser seu professor e que está se dedicando a você, faça sua parte: seja verdadeiramente um aluno.

Texto de Vanda Laurentino