COMO GANESHA REMOVE OS OBSTÁCULOS?

Assim como todas as deidades da tradição hindu, Ganesha apresenta e representa algumas forças da natureza e diferentes aspectos do caráter humano. Ou seja, personifica elementos que todos os seres carregam dentro de si. Senhor Ganesha é conhecido como o Removedor de Obstáculos.

Quando, no Ocidente, se associa a figura do deus com cabeça de elefante à remoção dos obstáculos, a tendência é imaginar que ele o faça pela força. Mas Ganesha é também o deus da Sabedoria e da Prosperidade, dois requisitos importantes para que obstáculos sejam “removidos”, ou superados. Muitas vezes, basta estar aberto a adotar uma nova perspectiva ou a modificar o ponto de vista para perceber que determinada situação deixa de configurar um “obstáculo”, pois que surgem novas maneiras de lidar com ela.

Há uma história muito popular sobre a sabedoria de Ganesha, e também sobre sua devoção à mãe e a rivalidade que existia entre ele e seu irmão mais novo:

Nunca existiram irmãos mais diferentes. Kartikeia, filho de Shiva e Parvati, era alto, elegante e atlético. Kartikeia é o deus da Guerra e domina o uso de todas as armas. Como a maioria dos garotos, é vaidoso e se preocupa muito com a aparência e as habilidades. Muito apropriadamente, seu animal e símbolo é o pavão, a ave mais bela de todas e também o pássaro nacional da Índia. Kartikeia sempre gostou de jogos e concursos energéticos, onde ele podia competir com outros deuses, especialmente com seu irmão e, é claro, ganhar.

Um dia, Kartikeia provocou seu irmão gordinho e o chamou para uma corrida! Ganesha já estava acostumado com os modos do irmão, então sorriu e continuou a ler o seu livro.
– Veja, mãe – reclamou Kartikeia, – ele não faz nada a não ser descansar a tromba em seu livro, o dia todo. Diga-lhe que nós, os deuses, temos que voar por aí e patrulhar esse mundo de vez em quando. Eu vôo o tempo todo no meu pavão. Vai ver que eu sou um deus melhor que ele.

– Vamos ver – foi a resposta de Parvati. E ela deu um pequeno teste aos filhos. Ela pediu aos dois que dessem uma volta ao redor do universo e aquele que chegasse primeiro, seria o vencedor e ganharia dela uma benção especial.

Kartikeia deu pulos de felicidade:
– Vou montar o meu pavão e voltarei sem demora! – ele se vangloriava, rindo-se ao imaginar Ganesh montado em seu camundongo. Ele ia levar milhões, ou bilhões de anos para dar a volta pelo universo.
– Você pode desistir agora mesmo, se prefirir – disse Kartikeia ao irmão, – porque não existe a menor chance de que possa ganhar!

Dando um alegre adeus, Kartikeia partiu no seu pássaro colorido. Ganesha se sentou e pensou calmamente por uns minutos. De mãos postas, ele abaixou a cabeça e orou à deusa Parvati. Então, montou no seu rato e, muito devagarinho, cheio de dignidade, ele começou a a dar uma volta ao redor da sua mãe.

Kartikeia levou um dia e uma noite para dar uma volta inteira pelo universo. E voava tão rapidamente que mal viu os planetas, as estrelas e os satélites, passando por eles como um raio. Por fim, feliz e orugulhoso, Kartikeia se apresentou à mãe, certo de que era o vencedor.

– Mas, Kartikeia, foi seu irmão quem venceu! – foram as palavras de Parvati. A deusa sabia que seu filho menor precisava de uma lição para crescer. – Sua velocidade foi menor que a sabedoria dele, filho!

Kartikeia mal podia acreditar no que ouvia. Teria ouvido bem?
– Como foi que você conseguiu? Como pôde dar uma volta tão rápida pelo universo, com este rato?

– Irmãozinho, nossa mãe, que nos deu à luz e nos cria e protege, também é a criadora de tudo e de todos no universo. O sol nasce no leste, as estrelas brilham à noite, os pássaros cantam, os rios correm, e tudo isso só porque nossa mãe o deseja. Quando você vê pessoas, animais, árvores, montanhas e até mesmo deuses, deve se lembrar da Grande Mãe que tudo criou. Todos nós somos parte dela. Ela é o universo! Portanto, eu apenas dei uma volta ao redor dela. – explicou Ganesha.

Kartikeia logo compreendeu o que o irmão tentava lhe dizer e teve vergonha do orgulho e da empáfia que sentira. E, humildemente, ele pediu perdão a Ganesha e então cumprimentou reverentemente Parvati:
– Mãe, a senhora também me perdoa? A senhora é tão adorável e eu tão jovem e tolo, que penso que é só minha e de mais ninguém. Esqueci-me de que a senhora é a Mãe Universal!

Parvati abriu os braços graciosos e abraçou ternamente os dois deuses, dizendo-lhes:
– Meus filhos, os dois ganharam. O amor de uma mãe é dado incondicionalmente e não existe criança que não receba as bênçãos de sua mãe. Ambos têm as minhas bênçãos. E que vocês possam, em troca, ser uma benção para todos os que os chamarem pedindo ajuda.

Por Vanda Laurentino